Nova época de Veteranos

Nova época de Veteranos

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

PAI DO RUGBY EM ÁFRICA

Este nosso blog é um espaço para divulgação do rugby, em especial do dos veteranos.
Privilegiamos, como é natural, temas relacionados com os nossos veteranos e de tudo o que, de uma ou de outra forma, esteja relacionado.
Por isso mesmo, não podíamos deixar de publicar neste nosso espaço, um maravilhoso texto que encontramos num blog de antigos combatentes portugueses na Guiné, 
www.blogueforanadaevaotres.blogspot.com, que o homenageia nosso capitão dos veteranos, Paulo Santiago, personagem muito querida para todos nós e que é inclusive o actual Presidente da Assembleia Geral do Moita-Rugby Clube da Bairrada, onde também pertencemos.Foi escrito por um colega seu de armas e presta também uma homenagem interessante ao rugby, tendo em conta a época a que se refere (anos 70).
Paulo Santiago, o "Pai do Rugby em África"
Caricatura de: © Mário Migueis da Silva - Direitos reservados
 Ao contrário do que legitimamente pensaram, não vamos relatar a visita do Pai do Rugby a África, mas tão só, e com igual grau de legitimidade, dar a conhecer aos menos informados que o Pai do Rugby em África tem nome e é português. Chama-se Santiago - Paulo Santiago - e nasceu para os lados de Águeda, Aguada de Cima, onde ainda reside.
Frequentou a Escola Superior de Agronomia, em Coimbra, que testemunhou os seus primeiros ensaios e conversões. Mas eu, simples narrador da história, só uns anitos mais tarde o conheci, lá para os lados do Saltinho, na Guiné, onde então ondulava pavilhão português.
Estávamos em 1971, talvez meados. Tinha (ele, o alferes Santiago) chegado na véspera da metrópole, onde gozara férias – duvido que merecidas - na santa terrinha de deliciosos comes e bebes. Cruzámo-nos na parada, ele vindo do abrigo do célebre Pelotão de Nativos 53, que comandava com um orgulho maluco, e eu de um lado qualquer, de que me não lembro nem interessa ao caso.
- Que é isso, Santiago?!...
- É uma bola de rugby, que trouxe ontem da metrópole, - respondeu com um largo sorriso, exibindo-me a alva bola com cara de melão..
- De rugby?!...
- Pois… Logo à tarde vamos fazer o primeiro treino no campo de lançamento dos frescos.
Ah, granda maluco!..., pensei eu sem dizer nada, que o homem podia levar a mal.
Só no dia seguinte soube – eu, o narrador – do que se passara na clareira a norte do Saltinho, onde, à falta de colunas de reabastecimento, os Nord Atlas lançavam pára-quedas com frescos e coisas assim.
- Com pernas fracturadas foram só dois, mas há mais estropiados com cabeças rachadas e dentes partidos, entorses e luxações. Ui, meu furriel, a coxear eram mais que muitos!..., - contava-me, tim-tim por tim-tim, o Cruz das Transmissões.
É claro que os senhores comandantes dos pelotões da Companhia ficaram assaz furiosos com o extenso rol de baixas, tal como o pacato Alferes Médico da Unidade – o Dr. Faria, oriundo da cidade-berço, que Deus tenha! – com tantos trabalhos e canseiras, para além da razia verificada nos stocks de álcool, tinturas,
massagins, ligaduras e adesivos.
- Isto, assim, não pode ser, meu capitão!, - queixava-se alguém ao Comandante, que, não sendo homem de atitudes precipitadas, ouvia, ouvia, e ia registando tudo mentalmente, como poderia depreender-se dos seus ligeiros e concordantes acenares de cabeça.
- Ó Santiago!, - chamou o Capitão discretamente, à porta da messe, já no final do dia, antes do jantar.
- Sim, meu Capitão?... – respondeu prontamente o nosso herói, com um sorrisinho inocente.
O Capitão Clemente, com o seu olhar verde metalizado a brilhar por sobre aquela pêra de azeviche, varreu o Santiago de cima para baixo e, em seguida, de baixo para cima, enquanto tentava encontrar as palavras adequadas para lhe transmitir a mensagem que se impunha. Finalmente, chupou profundamente a ponta já nos iscos do indispensável
SG Ventil e, com aquela voz cavernosa como só a dele, sentenciou por entre uma baforada meia de alívio, meia de desalento:
- Vá-se f....!”

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