Nova época de Veteranos

Nova época de Veteranos

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010


Ainda no seguimento do artigo "Pai do Rugby em África" que publicamos neste nosso blog, vem agora o dito cujo esclarecer o que efectivamente se passou, socorrendo-se de um artigo real, publicado no jornal da guerra lá no seu quartel em 1971 (em baixo), relativamente ao episódio da bola de rugby que levou da metrópole e que deu aso a este seu cognome.
Juntamos também 2 fotos da época uma delas do campo onde foi feito o tal 1º treino de rugby na Guiné.
A outra é desse peneirento atrás do General Spínola. Vejam só a pose....!!

LONGE DE PORTUGAL, LONGE DA FAMÍLIA, NA GUERRA COM...RUGBY

Passaram-se 39 anos ( como sou um tão velho veterano ) que escrevi o artigo que segue junto deste post. Agradeço ao meu antigo camarada Miguéis ter-me facultado uma cópia do "jornaleco".
Em Setembro de 1971, estava com onze meses de comissão, e em Agosto tinha estado de férias em Portugal, na Metrópole, como então se dizia. Neste mês de férias, uma das compras que fiz, em Coimbra, foi uma bola de Rugby Adidas, em calfe, o melhor que existia na época, bola que me acompanhou no regresso à Guiné.
Na Guiné, encontrava-me no Leste, num local chamado Saltinho, junto do rio Corubal que era aí atravessado por uma ponte de betão, uma das poucas existentes na colónia. Era (é) um local fantástico, parasidíaco, onde, fora da época das chuvas, praticava-se natação, mas...havia a puta da guerra...um gaijo sentia-a diáriamente...era o arame farpado que rodeava o quartel, eram os bunkers onde se dormia, eram os rebentamentos de metralha que se ouviam, mais longe ou mais perto, eram as operações, eram as emboscadas e as flagelações...o que fazer para desanuviar ? para não ficar completamente maluco ? Uma das actividades muito praticada, era beber, mas beber imoderadamente, de preferência scotch, gin, vodka, enfim bebidas..."medecinais"...destressavam, ajudavam a dormir, e até combatiam a malária/paludismo ( a água tónica que se junta ao gin tem quinino na sua composição). Mas beber também cansa, também esgota...
Foi para diversificar, para quebrar rotinas, que lá nos fins de Agosto, ou princípios de Setembro, do ano de 1971, do século passado, entrei no quartel do Saltinho acompanhado pela tal bola de rugby, comprada quando das minhas férias. Fama de maluco, de apanhado pelo clima, já a tinha, mas parece-me que a partir daquela chegada, os meus camaradas começaram a valorizar, ainda mais, aquelas minhas "qualidades" e até o médico prometeu uma consulta na...psiquiatria.
Na mesma data, os militares da CCAÇ 2701, à qual estava adido ( eu comandava uma unidade africana- PELCAÇNAT 53 ) resolveram lançar o saltitão um "jornaleco" feito a stencil, e do qual segue a página em anexo que introduz o tema do Rugby. Introduzido o tema, bola também havia, marcou-se um treino. Compareceram no treino, militares brancos, muito poucos, militares negros, os que comandava, todos os que estavam operacionais, se o Alferes, eu, dizia que aquilo era bom, eles seguiam-me. O treino foi muito puxado, com alguma dureza...fiquei com um olho negro.
Foi um marco na história! Foi no Saltinho, Guiné-Bissau, em Setembro de 1971, século XX, que houve o primeiro ( e único) treino de rugby. Foi o único porque em Outubro fui transferido para Bambadinca comandar uma companhia de instrução de Milícias, e só voltei ao Saltinho em Março/72, com a guerra a recrusceder, e os "combates" de rugby foram ficando para trás.
Pelo mesmo motivo, os temas que indicava no fim artigo, terem continuação, nunca foram escritos.

PS- Os bonecos que ilustram o artigo são da autoria do Mário Miguéis. Nas fotos juntas vê-se um ângulo do quartel do Saltinho com o R.Corubal ao fundo, e na outra, este veterano, atrás do Gen. Spínola, passando revista a uma Companhia de Milícias em Bambadinca, três meses após o treino ( Dezembro/71).

Cá fica o artigo publicado nesse jornaleco:

Sem comentários:

Enviar um comentário